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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Humildes como uma Poça D’água

“Põe tudo o que és no mínimo que fazes, nada teu exagera ou exclui. Assim, o lago reflete a lua toda porque alta vive.”

Fernando Pessoa

O mundo externo, várias culturas, brasis, Américas Latinas, Centrais e do Sul estão distantes de nós tanto quanto a lua, no entanto, voltando ao poema, fato que nós podemos observar e comprovar quando quisermos, é que um pequeno lago, não é um lago especial, pode até ser uma pequena poça de água da chuva, reflete toda a lua, mesmo que esteja cheia. Assim como o lago, pequeno o somos, mas talvez nos falte a humildade de uma pequena poça para sermos ao menos um reflexo da imensidão do mundo. Basta seguir as palavras do Mestre: sede humildes e mansos de coração.
Sentir-se pequeno não quer dizer menos importante, pois as maiores engrenagens, os maiores inventos da humanidade nada seriam sem os parafusos, as pequenas porcas e tantas pequenas peças. Sentir-se pequeno, nos abre um mundo cheio de possibilidades de crescimento, onde existe muito espaço para que possas preencher com suas ações, com seus projetos. Talvez devamos deixar o que é próprio de criança, disputar com as demais a atenção, por ser a maior, por ter um brinquedo que o colega não tem. Cultivemos os três princípios que I Coríntios nos dá: a fé, a esperança e o amor. O amor é citado como sendo, e é, o maior deles. Pois é dom de Deus, todos nós o possuímos, mas tantas vezes nos deparamos sem saber como fazer porque ele não tem manual de instruções, não se pode “baixar” um tutorial na internet. Mas Ele nos deixou escritos os seus principais mandamentos: amai a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a nós mesmos. Não são necessárias grandes explicações. Mas, como cita o Padre Fábio de Melo em uma de suas palestras, “estamos diante de uma sociedade que não se ama”, que quer se destruir pelo primeiro motivo que vem à sua mente.
Devemos ser humildes ainda enquanto criaturas de Deus, eu não tenho o
direito de destruir algo que alguém me presenteou. Você quebraria um presente que o seu pai ou a sua mãe lhe deu com muito carinho? Eu não quebraria. Não se quebre porque está chateado com alguma coisa, porque o seu relacionamento acabou ou porque discutiu com alguém da sua família. Talvez este não fosse o relacionamento que Deus preparou para você. Este homem ou esta mulher não traria a sua felicidade, a sua santidade. E na família, nos deparamos sim com as divergências, pois temos dificuldades em conviver com alguém que tem características muito parecidas com as nossas, com alguém que nos conhece até a alma e pode dizer que você está sentindo, muitas vezes algo que você não identificou ou não queria identificar. Por outro lado, existe o oposto muitas vezes dentro da nossa própria família. Você já ouviu aquele ditado que diz que nem os dedos das mãos que são irmãos, são iguais? Como podemos então sê-lo? Se não somos física, menos ainda seremos intelectualmente ou nos nossos temperamentos. Essas divergências, esses confrontos vão nos preparando para a vida que nos espera lá fora. Infelizmente o mundo não nos ama, não nos conhece e muitas vezes não nos aceita como somos e não está disposto a deixar passar as nossas atitudes erradas. Muitas vezes encontramos pessoas que dizem muito firmemente na empresa onde trabalha que não vai abaixar a sua cabeça, que ninguém grita com ele ou com ela, pois nem seu pai nem sua mãe fizeram isso. Este é um traço trazido pela infância de alguém que não conheceu a disciplina muitas vezes e agora não há mais tempo de ensinar a criança a obedecer para que o adulto leve esta característica para a sua vida em sociedade e em outros ambientes que exigem a presença dela. Não é bom que gritemos conosco, ninguém gosta disso, mas não é necessário que eu reaja gritando mais alto, porque não vai mais parar, perde-se o respeito de ambas as partes. Ninguém quer ser desrespeitado, desacreditado nas suas origens, na sua ética. Vemos pessoas completamente anti - éticas cobrando isso, e que podemos fazer, também é anti - ético dizermos muitas vezes essa verdade para alguém. Quem sabe, com a convivência dessa pessoa com a minha prática ética, ela não venha a perceber as falhas na sua postura. Uma pessoa adulta não ouve como uma criança os conselhos do adulto que é mais experiente, “sabe mais”, o adulto é auto - suficiente, ele muitas vezes não precisa da sua ajuda, talvez até mais jovem que ele.
Por isso a importância da humildade, somente uma pessoa adulta com o conhecimento desse dom, consegue permitir a opinião do outro nas suas práticas, consegue ouvir sem se revoltar que errou numa atitude, ou que precise melhorar suas posturas. E é preciso ser manso para não saltar com quatro pedras na mão sobre o que tentar se aproximar.
Na minha adolescência, fui impaciente, intolerante, e muitas vezes magoei quem amava, meus próprios irmãos dentro de casa. Sei disso, percebia a dor que me envolvia assim que dava uma resposta grosseira, ou não dava resposta alguma. Mas, eu não me dava conta naquele dia, ou naqueles meses que aquilo era uma dor de ter ofendido alguém. Aquela dor era interpretada como raiva da pessoa que magoei e por muito tempo foi assim, porque era próprio da fase que estava vivendo, da sobrecarga hormonal, da recente mudança de cidade, da perda do meu pai, e de uma série de fatores, digamos periódicos. Há quem diga em muitos casos que a pessoa “sempre foi assim”, “o pai e mãe nunca souberam educar”, dentre outras coisas que os pais têm que escutar e enfrentar ao ouvir por terceiros. Mas, em muitos casos é diferente. O meu, por exemplo. Sempre fui uma criança doce, amável, dengosa por ser a caçula, mal consigo ainda hoje levantar a minha voz e fazer valer a minha vontade, talvez os caçulas levem isso consigo, “somos os menores”, “ninguém vai nos ouvir”, mas estamos trabalhando isso, eu e o Pai do Céu. Citei a adolescência, porque sei que todos nós temos dificuldades nos relacionamentos com os ‘viventes’ desta fase tão importante da construção da personalidade humana. Assim como a infância, que não é única para todas as pessoas, também a adolescência não o é. Então não usemos frases como “eu já fui adolescente e nunca me comportei assim” ou expressões que se tornaram populares dentro desse tema. Cada um tem um tempo próprio para desabafar, para se sentir livre expressivamente ou fisicamente ou ainda espiritualmente, quando muitas vezes o adolescente ou pré-adolescente se revolta contra a cultura na qual está inserido, na religião, até mesmo na família. É na adolescência que se expressam muitas vezes as frustrações da infância, os medos, através do enfrentamento descompassado destes, dos complexos, da opressão sentida muitas vezes ou da super-proteção dos pais ou irmãos mais velhos.
Vem na adolescência, uma chance muito grande de se “consertar” os erros cometidos na infância, se houver uma maturidade no acompanhamento destas mudanças tão bruscas do comportamento humano. Os pais devem estar preparados para tolerar o que não precisaram tolerar na infância, pois com a ameaça de castigo, muitas vezes impediram as pequenas travessuras que faziam parte da construção, da experiência dos erros para se construir os acertos (Pe. Fábio de Melo, CD Vida). Nesta fase, para o adolescente, todos querem lhe podar, lhe frear e esta não é a melhor hora para interferir nos conceitos.

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